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A universidade que queremos passa pela humanização do conhecimento

O movimento estudantil, no ano passado, pautou boa parte de seus debates pelo Plano de Reestruturação e Ampliação das Universidades Federais apresentado pelo governo federal.

O Reuni colocou uma nova perspectiva para as universidades brasileiras, debatendo o acesso ao ensino superior e a necessidade que existe de ampliar as estruturas nas instituições federais.

Longe de ser a revolução no modelo de ensino nas universidades, o Reuni se apresentou como alternativa na busca por democratizar o ensino superior de nosso país, colocando como metas a ampliação de vagas e a criação de novos cursos.

Focado no debate que o governo federal apresentou, o que vimos, mais uma vez, foi uma parcela do movimento estudantil entrando na disputa de quem era mais ou menos governista, deixando de lado o que deveria ser o foco do nosso debate, que é o modelo de educação que queremos para o nosso país.

O debate da qualidade de ensino surgiu em cima de um projeto que não teve como centro discutir o projeto político-pedagógico da universidade, e sim a abertura da estrutura universitária a mais pessoas que atualmente estão longe de ter acesso a uma formação de ensino superior.

Em meio a esse debate de quem divergiria do governo ou concordaria mais com ele, a UNE sentiu a necessidade de debater a educação de nosso país em torno de um projeto formulado pelos próprios estudantes. 

Projeto este que deve buscar uma perspectiva pedagógica de concepção da universidade que queremos, buscando interferir de fato no modelo de ensino colocado hoje e que a maioria das pessoas reproduz, que é o do individualismo e da competitividade. A qualidade de ensino nas universidades passa prioritariamente pela formação libertária e emancipadora das pessoas, e deve trazer uma perspectiva humanista de ensino em que as pessoas possam ter consciência crítica e melhor leitura da realidade, buscando contribuir para o desenvolvimento socioeconômico e cultural de nossa sociedade.

Neste sentido, toda a rede do movimento estudantil precisa compreender e encarar o desafio de transformar o atual modelo de ensino. O que está em jogo é a mudança ou a reprodução de valores capitalistas que estão entranhados na atual concepção de universidade. A competitividade, a individualidade acima do coletivo, o preconceito contra as minorias e a lógica tecnicista de formação se somam à reprodução da história prevalecida por uma versão contada pelos detentores do poder econômico.

É nesse modelo de ensino que devassa e corrompe os seres humanos que o movimento estudantil e a juventude devem estar com suas atenções focadas. A necessidade de humanizar o conhecimento e mudar a lógica de "tempos modernos" presente em nossa educação é que deve ser pauta do ME.

Faz-se urgente o nosso debate sobre educação popular. Uma educação que, além de garantir o acesso e a permanência nas universidades, possa desconstruir alguns conceitos presentes em nossa formação. Educação popular é a democratização da universidade em todos os níveis, principalmente na participação massiva e igualitária da comunidade universitária na definição dos rumos que a universidade deve tomar. E, mais do que isso, educação popular é fazer com que todo conhecimento produzido na universidade seja produzido de forma a estabelecer um diálogo com as demandas sociais presentes na contradição da nossa sociedade. 

As pesquisas devem ser produzidas para e com o povo, fazendo com que de fato a extensão universitária seja um dos tripés indispensáveis para a formação universitária de qualquer indivíduo. Precisamos fortalecer a extensão popular como instrumento de mudança da lógica capitalista na sociedade, contribuindo para que a população possa exercer influência na produção do conhecimento, e que este seja produzido para atendê-la e para proporcionar alternativas para uma sociedade justa e soberana, com desenvolvimento sustentável e qualidade de vida.

Este é o debate que a União Nacional dos Estudantes quer proporcionar nas universidades e para a sociedade como um todo. Um debate que vai muito além daquilo que os poderes instituídos podem apresentar, um debate que de fato nos colocará no patamar de organizar a luta popular na disputa pela hegemonia na sociedade, com concepções bem elaboradas do modelo de sociedade na qual queremos viver, uma sociedade fraterna e com justiça social, uma sociedade que proporcione a humanização do conhecimento.

Tales de Castro (Campinas – SP)


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