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Bullying

Bullying (não há tradução para o termo) é uma das formas que a violência assume e que, muitas vezes, é vista como simples atrito, brincadeira ou desavença – “coisas de crianças” - entre crianças ou adolescentes. Acontece principalmente no âmbito escolar e é tolerado, às vezes estimulado, por uma cultura da banalização da violência ou por desconhecimento sobre o tema, e pode trazer consequências graves.

Desde a década de 60 esse tipo de violência vem sendo objeto de estudos e assume proporções cada vez maiores.

Pesquisas com alunos de escolas públicas revelam que cerca de 50% deles são vítimas de bullying e que as consequências vão desde o isolamento ou o abandono da escola pela criança ou adolescente até extremos como suicídio ou violência contra os colegas, como, por exemplo, os acontecimentos de Columbine, nos Estados Unidos, e em escolas de Taiuva (SP) e Remanso (RS), onde alunos vítimas de bullying terminaram por invadir suas próprias escolas, atirando, matando estudantes e, depois, se suicidando.

O que é bullying? 

Estudos recentes têm apontado para essa forma de violência que ocorre dentro das escolas, diferenciando-a de brincadeiras próprias da idade porque implica relações desiguais de poder. Os atos de violência são intencionais e repetitivos, sem motivação evidente, praticados por um ou mais estudantes contra outro/outros, causando angústia e sofrimento.

O bullying é todo tipo de violência, como humilhar, colocar apelidos depreciativos, agredir, discriminar, excluir, tirar “sarro”, amedrontar, ofender, quebrar objetos, chutar, assediar, dominar, perseguir, difamar etc.

Como acontece com outras formas de violência, o bullying também é marcado pelo complô do silêncio: a vítima se encontra encarcerada pelo medo, pelas constantes ameaças e, muitas vezes, pelas atitudes de conivência e pelos estímulos que ela vê nos adultos que a cercam (Se apanhar na rua, apanha em casa; Foi só uma brincadeira, você não tem senso de humor; Bateu, levou!; Pedala, Robinho! etc.).

A representação do bullying acontece com alunos que são alvos/autores (ora sofrem, ora praticam o bullying), com aqueles que são só autores e com aqueles que são testemunhas (convivem num ambiente onde essa violência é aceita). 

Os autores de bullying são pessoas de pouca empatia e vêm de ambientes onde a violência é uma forma frequente de resolução de conflitos. Agem no binômio mando-obedece pela força e pela agressão, repetindo um comportamento que lhes foi ensinado. Têm grande probabilidade de desenvolver comportamentos antissociais e atitudes delinquentes.

Os alvos são pessoas ou grupos que são prejudicados ou que sofrem as consequências dos comportamentos de outros e que não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessarem os atos danosos contra si. São, geralmente, pouco sociáveis. Um forte sentimento de insegurança os impede de solicitar ajuda. São pessoas sem esperança quanto às possibilidades de se adequarem ao grupo. A baixa autoestima é agravada por intervenções críticas ou pela indiferença dos adultos ante seu sofrimento. Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos. Muitos passam a ter baixo desempenho escolar e resistem ou recusam-se a ir para a escola, chegando a simular doenças. Trocam de colégio com frequência ou abandonam os estudos. Há jovens que, em extrema depressão, acabam tentando ou cometendo o suicídio.

O avanço tecnológico trouxe outra modalidade dessa violência, que chega também por meios virtuais: o cyberbullying ou ciberbullying, cujo efeito multiplicador tem preocupado pais e educadores. A utilização da internet e de outras tecnologias tem servido para maltratar, humilhar e constranger de forma perversa e ultrapassa os muros da escola. Acontece através de e-mails, torpedos, blogs, Orkut, MSN e outros, nos quais o autor adota nicknames (apelidos) e dissemina rumores, fotos, boatos sobre as vítimas, seus familiares e professores. Os alvos do cyberbullying podem ser quaisquer pessoas, não havendo motivos claros que justifiquem os ataques. Nos casos de cyberbullying, as consequências são as mesmas, com o agravante de que o sentimento de impotência é maior, porque o autor dessa violência se esconde no mundo virtual para desferir seus golpes.

Diante dessas modalidades de violência, temos de refletir sobre nosso papel de educadores e repensar estrategicamente formas de enfrentamento do fenômeno, de modo a garantir e assegurar a proteção da qual somos todos devedores a crianças e adolescentes, sejam eles nossos filhos ou alunos.

Há caminhos a seguir: um deles é quebrar o complô do silêncio, proceder a notificações dessas violências, organizar e implementar ações nas quais a cultura da paz seja mediadora eficaz e eficiente das relações interpessoais que devem construir processos civilizatórios embasados em valores de cidadania.

Kátia Abbud (Ribeirão Preto – SP)
Assistente social e pedagoga graduada em Violência Doméstica


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