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Família e escola: uma integração necessária

Todos Pela Educação e Angela Dannemann, superintendente da FIS, falam sobre o Ensino Fundamental 2

Fonte: Correio Braziliense

Você se lembra da participação de seus pais ou familiares no seu dia a dia Escolar? Isso foi importante para você? Para nós, essa participação faz parte de nossas melhores lembranças e certamente nos ajudou a seguir até hoje com tanto interesse na área. Parece óbvio dizer que é importante família e Escola estarem integradas, porém essa relação não é trivial. A busca por ampliar e melhorar a qualidade desse relacionamento é um desafio para todas as partes envolvidas: famílias, unidades de Ensino, poder público. É comum, por exemplo, que, ao ser questionada sobre as responsabilidades em relação ao comportamento e desempenho dos Alunos, a família culpe a Escola, e a Escola, por sua vez, culpe a falta de participação da família. Mas a questão é que todos precisam compartilhar responsabilidades, incluindo aqui o poder público, para que essa parceria colabore efetivamente com o desenvolvimento dos Alunos.

Diversas pesquisas têm mostrado que uma boa relação impacta positivamente o desempenho das crianças e dos jovens ao longo de toda a sua trajetória Escolar. Uma delas, a pesquisa Equidade e Qualidade na Educação (2012), da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), aponta que a atitude dos familiares pode resultar em redução do abandono Escolar. E os benefícios ultrapassam a vida acadêmica, atingindo, por exemplo, suas aspirações e sua autoconfiança, a forma de se relacionar com os outros e sua participação na vida pública.

Mas as famílias brasileiras, apesar de se preocuparem com os filhos, não conseguiram ainda incorporar à sua rotina atitudes de valorização da Educação, como mostrou uma pesquisa feita por iniciativa de um grupo de organizações, entre elas o movimento Todos Pela Educação e a Fundação Itaú Social, em 2014. É essencial que as famílias entendam que sua participação pode se dar por meio de ações corriqueiras, independentemente da sua condição socioeconômica ou Escolaridade. Acompanhar o dever de casa e conversar com o Aluno sobre seus interesses, seus sonhos e sobre o que aprendeu na Escola são exemplos de iniciativas que demonstram como a família valoriza a Educação.

A Escola, por sua vez, tem o importante papel de reduzir a distância e estimular o engajamento das famílias, acolhendo-as e apoiando-as com sugestões sobre como exercer esse papel. Uma boa prática nesse sentido vem das Escolas públicas de Boston (EUA), que conversam com as famílias sobre o que os Alunos estão aprendendo e sugerem atividades para que elas possam estimular experiências relacionadas com esses assuntos no dia a dia.

Os profissionais da gestão educacional também concordam sobre os efeitos positivos desse relacionamento. A pesquisa nacional sobre o Perfil dos Dirigentes Municipais da Educação no Brasil, de 2010, indicou que a ausência das famílias no processo Escolar é o segundo maior problema enfrentado na gestão. Mas, em geral, os gestores e as equipes Docentes não sabem como enfrentar esse desafio, que demanda ações específicas que extrapolam o que a maioria das Escolas consegue fazer no dia a dia.

As redes de Ensino e as Escolas precisam refletir sobre as rotinas e sobre a forma como têm acolhido as famílias, e, assim passar a se organizar para dialogar com elas — preparando, por exemplo, um espaço físico para recebê-las e desenvolvendo formatos e horários de reuniões que estimulem a interação.

Há diversos exemplos de Escolas que já celebram essa conquista, mas o desafio é ampliar essas experiências, para que cheguem a mais municípios e estados. À medida que esse tema começa a ser visto como política pública necessária, as equipes Escolares têm mais apoio para promover essa aproximação com as famílias, e essas passam a ser vistas e a se ver como parte fundamental do processo educativo.

No Brasil, a metodologia do programa Coordenadores de Pais, da Fundação Itaú Social, e a agenda das 5 Atitudes, do movimento Todos Pela Educação, são exemplos que visam fortalecer e inspirar essa relação. Em parceria com secretarias de Educação de alguns estados e municípios, tem sido possível observar os desdobramentos desse tipo de apoio para a equipe Escolar, cuja capacidade de atenção e relação com as famílias e a comunidade é reforçada, e para as famílias, que passam a ter exemplos práticos de como atuar.

A aproximação entre a família e a Escola é uma frente estratégica que, quando articulada com outras políticas educacionais, pode colaborar muito com os complexos desafios de melhora da qualidade da Educação pública.

Requer o envolvimento e a formação contínua das equipes Escolares, das secretarias e também das famílias. Dessa forma, o esforço resulta em ações estruturadas, que fornecem subsídios aos profissionais da área e levam todos a atuar juntos em favor de uma Educação básica pública de qualidade.

*Patrícia Mota Guedes é gerente de Educação da Fundação Itaú Social e mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Princeton.
**Priscila Cruz é fundadora e presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação e mestre em Administração Pública pela Harvard Kennedy School.


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